quinta-feira, 19 de março de 2009

quarta-feira, 18 de março de 2009

TITÃS // COMIDA



MÚSICA APRESENTADA EM FORMA DE TEXTO POR BETHANIA DIA 17 EM B.H.

Maria Bethânia emociona centenas de pessoas no campus Pampulha





Maria Bethânia emociona centenas de pessoas no campus Pampulha
terça-feira, 17 de março de 2009, às 15h00

Durante 50 minutos, entre o fim da manhã e o início da tarde de hoje, para uma platéia de pelo menos 700 pessoas, no auditório, no saguão e no mezanino da Reitoria da UFMG, Maria Bethânia leu trechos de poemas e textos escolhidos por ela. Recitou Antonio Vieira, Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Caetano Veloso, Titãs, entre outros autores, e cantou a capela trechos de canções brasileiras e portuguesas.

O espetáculo foi a primeira edição do ciclo Sentimentos do Mundo, que trouxe à UFMG, desde 2007, nomes como o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, o cineasta David Lynch e a ambientalista Danielle Mitterrand. Antes de começar a leitura, Bethânia elogiou a iniciativa de “trazer expressões artísticas para uma casa de ensino” e defendeu a “educação plena”. “Acho que estou aqui porque ouso me expressar com a palavra falada, sempre gostei de emprestar vida e voz aos personagens que os autores revelam”, ela disse.

Maria Bethânia foi apresentada pela professora da Faculdade Letras Lucia Castelo Branco, que, com um texto poético, lembrou seu primeiro contato com a literatura, ouvindo Clarice Lispector na voz de Bethânia, a participação da cantora no DVD Língua de brincar, que ela produziu sobre o poeta Manoel de Barros, e a admiração da escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol, morta no ano passado, por Maria Bethânia. A escritora definiu Bethânia como “cantora de leitura”. “Maria Gabriela nunca se encontrou com Bethânia mas creio que o desejou profundamente”, disse Lucia Castelo Branco, que prepara um DVD sobre a faceta “cantora de leitura” de Maria Bethânia.

Textos íntimos
A artista disse que escolheu textos com os quais tinha intimidade. E começou com Titãs (“a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”) e Fernando Pessoa (poema O rio da minha aldeia). Cantarolou Marinheiro só, do irmão Caetano Velloso, e convidou a platéia a acompanhá-la quando entoou Calix bento (adaptada do folclore por Tavinho Moura e consagrada na voz de Milton Nascimento).

Com o conhecido domínio de palco e a desenvoltura de quem sempre recita textos em seus espetáculos – desde o famoso show de estréia no Teatro Opinião, em São Paulo, como ela própria lembrou –, Bethânia se soltou ainda mais depois de alguns minutos e reagiu com bom humor quando ouviu um assovio do público. “Pensei que em leitura de texto não tinha isso, faça isso também no meu show”, ela disse.

Ao ler trechos do Sermão de Santo Antônio, do Padre Antônio Vieira, Bethânia citou o local em que ele foi lido – São Luís do Maranhão – e enfatizou a data – 1654 –, chamando a atenção para a atualidade do texto. “O saber e o poder incham os homens”, escreveu Vieira.

Bethânia recitou ainda, entre outros, Cecília Meireles, Guimarães Rosa e voltou a Caetano Veloso, com um extrato da letra de Língua (“Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões”). Para terminar, certamente não por acaso, ela escolheu Clarice Lispector: "Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, vai durar. Por enquanto tu olhas para mim e me amas. Não: tu olhas para ti e te amas. É o que está certo."

Os aplausos a Maria Bethânia duraram cerca de cinco minutos. Antes de se despedir do público e deixar o palco, a artista recebeu do reitor da UFMG uma placa de agradecimento, com versos do ex-aluno e ex-professor da UFMG Emílio Moura. Depois de uma rápida conversa com jornalistas, Bethânia ainda conversou com pessoas que esperavam por ela na entrada do prédio da Reitoria.

Fotos de Foca Lisboa

terça-feira, 17 de março de 2009

FERNANDO PESSOA




O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o tejo não mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,
O Tejo tem grande navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.