sábado, 16 de agosto de 2008

Maria Bethania - Debaixo D'agua



Letras de Músicas | Letra de Debaixo D'agua
Maria Bethania - Debaixo D'agua

Debaixo d'água tudo era mais bonito
Mais azul, mais colorido
Só faltava respirar
Mas tinha que respirar

Debaixo d'água se formando como um feto
Sereno, confortável, amado, completo
Sem chão, sem teto, sem contato com o ar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia

Debaixo d'água por encanto sem sorriso e sem pranto
Sem lamento e sem saber o quanto
Esse momento poderia durar
Mas tinha que respirar

Debaixo d'água ficaria para sempre, ficaria contente
Longe de toda gente, para sempre no fundo do mar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
todo dia
Todo dia, todo dia

Debaixo d'água, protegido, salvo, fora de perigo
Aliviado, sem perdão e sem pecado
Sem fome, sem frio, sem medo, sem vontade de voltar
Mas tinha que respirar

Debaixo d'água tudo era mais bonito
Mais azul, mais colorido
Só faltava respirar
Mas tinha que respirar
Todo dia

Agora que agora é nunca
Agora posso recuar
Agora sinto minha tumba
Agora o peito a retumbar
Agora a última resposta
Agora quartos de hospitais
Agora abrem uma porta
Agora não se chora mais
Agora a chuva evapora
Agora ainda não choveu
Agora tenho mais memória
Agora tenho o que foi meu
Agora passa a paisagem
Agora não me despedi
Agora compro uma passagem
Agora ainda estou aqui
Agora sinto muita sede
Agora já é madrugada
Agora diante da parede
Agora falta uma palavra
Agora o vento no cabelo
Agora toda minha roupa
Agora volta pro novelo
Agora a língua em minha boca
Agora meu avô já vive
Agora meu filho nasceu
Agora o filho que não tive
Agora a criança sou eu
Agora sinto um gosto doce
Agora vejo a cor azul
Agora a mão de quem me trouxe
Agora é só meu corpo nu
Agora eu nasco lá de fora
Agora minha mãe é o ar
Agora eu vivo na barriga
Agora eu brigo pra voltar
Agora
Agora
Agora

Dorival Caymmi - O bem do mar


Letras de Músicas | Letra de O bem do mar

Dorival Caymmi - O bem do mar

O pescador tem dois amor
Um bem na terra, um bem no mar

O bem de terra é aquela que fica

Na beira da praia quando a gente sai
O bem de terra é aquela que chora
Mas faz que não chora quando a gente sai
O bem do mar é o mar, é o mar
Que carrega com a gente

Pra gente pescar

Maria Bethania - Se Eu Morresse de Saudade




Letras de Músicas | Letra de Se Eu Morresse de Saudade

Maria Bethania - Se Eu Morresse de Saudade

Se eu morresse de saudade
Todos iriam saber
Pelas ruas da cidade
Todos poderiam ver
Os estilaços da alma
Os restos do coração
Queimado, pobre coitado
Pelo fogo da paixão

Se eu morresse de saudade
Mandariam lhe prender
O povo suspeitaria
Que o culpado foi você
O seu retrato estaria estampado em cada grão
Do que em mim restaria
Feito areia pelo chão

Fantasia, fantasia, sedução
Desde o dia em que eu segurei sua mão
Se eu morresse de saudade
Nunca iria conhecer
O prazer da liberdade
O dia de lhe esquecer
Se eu morresse de saudade
Não poderia dizer
Que bom morrer de saudade
E de saudade viver

Dorival Caymmi - O bem do mar



Letras de Músicas | Letra de O bem do mar

Dorival Caymmi - O bem do mar

O pescador tem dois amor
Um bem na terra, um bem no mar

O bem de terra é aquela que fica

Na beira da praia quando a gente sai
O bem de terra é aquela que chora
Mas faz que não chora quando a gente sai
O bem do mar é o mar, é o mar
Que carrega com a gente

Pra gente pescar

É DOCE MORRER NO MAR // DORIVAL CAYMMI


Letras de Músicas

Dorival Caymmi - É Doce Morrer No Mar

É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
A noite que ele não veio foi
Foi de tristeza prá mim
Saveiro voltou sozinho
Triste noite foi prá mim
É doce morrer... (2x)
Saveiro partiu de noite foi
Madrugada não voltou
O marinheiro bonito
Sereia do mar levou
É doce morrer... (2x)
Nas ondas verdes do mar meu bem
Ele se foi afogar
Fez sua cama de noivo
No colo de Iemanjá
É doce morrer... (2x)

Hoje, 16 de agosto de 2008, aos 94 anos, morreu Dorival Caymmi, um dos maiores ícones da música e cultura da Bahia e do Brasil.





Maria Bethânia,

"É uma perda muito grande para o planeta e especialmente para nós, da Bahia. Mas não podemos ficar só na perda, um ser como ele morre, mas vira encantado de imediato, porque o que ele plantou florescerá. Por sua força, simplicidade e genialidade, foi um luxo podermos viver ao mesmo tempo que ele."

SAUDADES DE CAYMMI ............................


Morreu neste sábado, aos 94 anos, o cantor e compositor Dorival Caymmi, no Rio de Janeiro. Ele sofria de insuficiência renal e teve falência múltipla dos órgãos. Desde 1999, o cantor lutava contra um câncer renal e estava internado em casa há quase um ano.

Ele era casado com Stella Maris e deixa três filhos, Dori, Nana e Danilo, também músicos.

Segundo a família de Caymmi, o sepultamento deve acontecer na tarde deste domingo (17), no cemitério São João Batista, na Zona Sul do Rio.

Carreira
Caymmi nasceu em Salvador, na Bahia, no dia 30 de abril de 1914. Ele deixa mais de cem composições, entre elas 'Eu não tenho onde morar', 'Maracangalha', 'O que é que a baiana tem?' e 'Rosa Morena'.


Bethânia tinha uma admiração enorme por ele, e nós também !!! Um compositor, cantor, e pessoa da maior qualidade. Até um dia Caymmi.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Maria Bethania - Lágrima



Letras de Músicas | Letra de Lágrima

Maria Bethania - Lágrima

Lágrima por lágrima hei de te cobrar
Todos os meus sonhos que tu carregaste, hás de me pagar
A flor dos meus anos, meus olhos insanos de te esperar
Os meus sacrifícios, meus medos, meus vícios, hei de te cobrar

Cada ruga que trouxer no rosto, cada verso triste que a dor me ensinar
Cada vez que no meu coração, morrer uma ilusão, hás de me pagar
Toda festa que adiei, tesouros que entreguei, a imensidão do mar
As noites que encarei sem Deus, na cruz do teu adeus, hei de te cobrar

A flor dos meus anos, meus olhos insanos, de te esperar
Os meus sacrifícios, meus medos, meus vícios, hei de te cobrar
Cada ruga que eu trouxer no rosto, cada verso triste que a dor me ensinar
Cada vez que no meu coração morrer uma ilusão, hás de me pagar
Toda festa que adiei, tesouros que entreguei, a imensidão do mar
As noites que encarei sem Deus, na cruz do teu adeus, hei de te cobrar...

Lágrima por lágrima.

Maria Bethania - Mel



Letras de Músicas | Letra de mel


Maria Bethania - Mel

Ó abelha rainha
Faz de mim um instrumento
De teu prazer, sim, e de tua glória
Pois se é noite de completa escuridão
Provo do favo de teu mel
Cavo a direita claridade do céu
E agarro o sol com a mão
É meio dia, é meia noite, é toda hora
Lambe olhos, torce cabelos
Feticeira vamo-nos embora
É meio dia, é meia noite
Faz zum zum na testa
Na janela, na fresca da telha
Pela escada, pela porta
Pela estrada toda à fora
Anima de vida o seio da floresta
Amor empresta a praia deserta
Zumbe na orelha, concha do mar
Ó abelha boca de mel
Carmim, carnuda, vermelha
Ó abelha rainha
Faz de mim um instrumento
De teu prazer, sim, e de tua glória.

Maria Bethania - Chão de Estrelas



Letras de Músicas | Letra de Chão de Estrelas

Maria Bethania - Chão de Estrelas

Chão de Estrelas

Minha vida era um palco iluminado
E eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guisos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações

Meu barracão lá no morro do salgueiro
Tinha um cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje quando do sol a claridade
Cobre meu barracão sinto
saudade da mulher pomba-rola que voou
Nossas roupas comuns dependuradas
nas cordas qual bandeiras agitadas
pareciam um estranho festival
festa dos nossos trapos coloridos
a mostrar que nos morros mal vestidos
é sempre feriado nacional

A porta do barraco era sem trinco
E a lua furando nosso zinco
salpicava de estrelas nosso chão
E tu, tu pisavas nos astros distraída
Sem saber que a ventura dessa vida
É a cabrocha, o luar e o violão

Maria Bethania - Sereia de Água Doce



Letras de Músicas | Letra de Sereia de Água Doce


Maria Bethania - Sereia de Água Doce

Andando de manhãzinha
Um cumpadre amigo meu
Se assustou com a moça linda
Que passou ao lado seu
Correndo ele veio avisar
Branco, tremeu, gritou
Você não vai acreditar
Na sereia que aqui passou


De onde ela é?
É do Bonito quem diz
É o que preciso
O rio Bonito é feliz
É o paraíso
O rio Bonito senhor
Não fica triste
Praia coberta de flor
Sempre resiste


Daqui a pouco vem João
Correndo, gritando e acenando com a mão
Animado vem avisar
Que os homens tão loucos
A moça a sambar
Quando chego na roda de samba
Só pode ser Deus quem fez
Cinturinha de pilão
Mariquinha nem chega aos seus pés

Maria Bethania - Palavras



Letras de Músicas | Letra de Palavras

Maria Bethania - Palavras

Não tente me enganar
Vejo em seu olhar que já não existe
Aquele mesmo amor que nunca esperou
Acabar tão triste.

Não tente me dizer palavras que eu
Já não acredito
Eu posso compreender o que restou de um amor
Que foi tão bonito.

Eu fiz daquele amor o meu sonho maior
Minha razão de tudo
Foi pouco o que restou
De tanto que existiu
Recordações e nada mais.

Não, não vá me dizer palavras que venham
Me fazer chorar depois
Eu sei que vou viver
Por muito tempo ainda
Das lembranças de nós dois.

Maria Bethania - Explode Coracao



Letras de Músicas | Letra de Explode Coracao

Maria Bethania - Explode Coracao

Chega de tentar dissimular
E disfarcar e esconder
O que nao da mais pra ocultar
E eu nao posso mais calar
Ja que o brilho desse olhar foi traidor e
Entregou o que voce tentou conter
O que voce nao quis desabafar e me cortou
Chega de temer, chorar, sofrer
Sorrir, se dar, e se perder, e se achar
Que tudo aquilo que e viver,
Eu quero mais e me abrir
E que essa vida entre assim
Como se fosse o sol
Desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor dessa manha
Nascendo, rompendo, rasgando,
E tomando meu corpo e entao eu
Chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando
Feito louco, alucinado e crianca
Sentindo o meu amor se derramando
Nao da mais pra segurar
Explode coracao

Formosa - Maria Bethânia


Maria Bethânia e convidadas - Ofá / É D'Oxum


Maria Bethânia - Prenda (Show Nossos Momentos - 1982)





Letras | Letra de prenda

Maria Bethânia - Prenda

Amar
É deitar com a lua
Num colo de samambaia
O sol na barra da saia
Estrelas no fim da rua
Amar é dormir tranqüilo
Um sono de adolescente
Sonhar um sonho indecente
E acordar para traduzi-lo
Amar é voltar molhado
Das águas do mar sereno
Queria ter te encontrado
Antes do passado
O tempo é pequeno
Amar é guardar no bolso
Canções que ninguém escuta
Um leve sabor de fruta
A cor que te faz mais moço
É fogo que se improvisa
Nas praias do pensamento
É vento é vazão é brisa
A razão precisa
Do sentimento
Amar é tecer segredos
Cuidando de quem se ama
É sempre acendendo a chama
É longe de todo medo
É pássaro é prenda é prata
É sombra é silêncio é sono
Amar é jamais ser dono
É febre que não maltrata

EU PRECISO DE VOCÊ // BETHÂNIA


quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Maria Bethânia - Poema Do Menino Jesus


Letras | Letra de poema-do-menino-jesus

Maria Bethânia - Poema Do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de primavera eu tive um sonho como
uma fotografia: eu vi Jesus Cristo descer à Terra.
Ele veio pela encosta de um monte, mas era outra vez
menino, a correr e a rolar-se pela erva
A arrancar flores para deitar fora, e a rir de modo a
ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu. Era nosso demais pra
fingir-se de Segunda pessoa da Trindade.
Um dia que DEUS estava dormindo e o Espírito Santo
andava a voar, Ele foi até a caixa dos milagres e
roubou três.
Com o primeiro Ele fez com que ninguém soubesse que
Ele tinha fugido; com o segundo Ele se criou
eternamente humano e menino; e com o terceiro Ele
criou um Cristo eternamente na cruz e deixou-o pregado
na cruz que há no céu e serve de modelo às outras.
Depois Ele fugiu para o Sol e desceu pelo primeiro
raio que apanhou.
Hoje Ele vive na minha aldeia, comigo. É uma criança
bonita, de riso natural.
Limpa o nariz com o braço direito, chapinha nas poças
d'água, colhe as flores, gosta delas, esquece.
Atira pedras aos burros, colhe as frutas nos pomares,
e foge a chorar e a gritar dos cães.
Só porque sabe que elas não gostam, e toda gente acha
graça, Ele corre atrás das raparigas que levam as
bilhas na cabeça e levanta-lhes a saia.
A mim, Ele me ensinou tudo. Ele me ensinou a olhar
para as coisas. Ele me aponta todas as cores que há
nas flores e me mostra como as pedras são engraçadas
quando a gente as tem na mão e olha devagar para
elas.
Damo-nos tão bem um com o outro na companhia de tudo
que nunca pensamos um no outro. Vivemos juntos os dois
com um acordo íntimo, como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer nós brincamos as cinco pedrinhas no
degrau da porta de casa. Graves, como convém a um DEUS
e a um poeta. Como se cada pedra fosse todo o Universo
e fosse por isso um perigo muito grande deixá-la cair
no chão.
Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos
homens. E Ele sorri, porque tudo é incrível. Ele ri
dos reis e dos que não são reis. E tem pena de ouvir
falar das guerras e dos comércios.
Depois Ele adormece e eu o levo no colo para dentro da
minha casa, deito-o na minha cama, despindo-o
lentamente, como seguindo um ritual todo humano e todo
materno até Ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma. Às vezes Ele acorda de
noite, brinca com meus sonhos. Vira uns de pena pro ar,
põe uns por cima dos outros, e bate palmas, sozinho,
sorrindo para os meus sonhos.
Quando eu morrer, Filhinho, seja eu a criança, o mais
pequeno, pega-me Tu ao colo, leva-me para dentro a Tua
casa. Deita-me na tua cama. Despe o meu ser, cansado e
humano. Conta-me histórias caso eu acorde para eu
tornar a adormecer, e dá-me sonhos Teus para eu
brincar.

Maria Bethania - Coração Ateu


Letras de Músicas | Letra de Coração Ateu

Maria Bethania - Coração Ateu

O meu coração ateu quase acreditou
Na sua mão que não passou de um leve adeus

Breve pássaro pousado em minha mão
Bateu asas e voou
Meu coração por certo tempo passeou
Na madrugada procurando um jardim
Flor amarela, flor de uma longa espera
Logo meu coração ateu

Se falo em mim e não em ti
É que nesse momento
Já me despedi
Meu coração ateu
Não chora e não lembra
Parte e vai-se embora

Maria Bethania - Detalhes


Letras de Músicas | Letra de Detalhes

Maria Bethania - Detalhes


Não adianta nem tentar..me esquecer..
Durante muito tempo em sua vida eu vou viver
Detalhes tão pequenos de nós dois
São coisas mto grandes pra esquecer..!
E a tda a hora vao estar presentes...Vc vai ver...
Se um outro cabeludo parecer..na sua rua...
E isso lhe trouxer saudades mnhs..A culpa é sua..
O ronco barulhento do seu carro...
A velha calça desbotada ou coisa assim...
Imediatamente vc vai..lembrar de mim...
Eu sei que um outro vai estar falando..ao seu ouvido..
Palavras de amor como eu falei...Mas eu duvido..
Duvido que ele tenha tanto amor...
E até os erros do meu portugues ruim...
E nessa hora vc vais..Lembrar de mim...
A noite envolvida no silêncio do seu quarto...
Antes de dormir..Vc procura o meu retrato...
Ma da moldura..ñ sou eu quem lhe sorri...
Mas vc vê o meu sorriso mm assim..
E tdo isso vai fazer vc..lembrar de mim..
Se alguem tocar seu corpo como eu..não diga nda
N va dixer meu nome sem querer..a pessoa errada..
Pensando ter amor..nesse momento..
Desesperada vc tenta ate ao fim...
E até nesse momento vc vai..lembrar de mim..
Eu sei que esses detalhes vao sumir..na Longa estrada...
Do tempo que transforma tdo o amor em quase nda..
Mas quase tb é mais um detalhe..
Um grande amor nao vai morrer assim..
Por isso de vez em quando..Vc vai..Lembrar de mim...
Ñ adianta nem tentar..me esquecer..
Durante muito tempo em sua vida eu vou viver
Ñ adianta nem tentar..me esquecer..
Durante muito tempo em sua vida....

Maria Bethania - Amor de Índio


Letras de Músicas | Letra de Amor de Índio

Maria Bethania - Amor de Índio

Tudo que move é sagrado
e remove as montanhas
com todo o cuidado, meu amor.
Enquanto a chama arder
todo dia te ver passar
tudo viver a teu lado
com arco da promessa
do azul pintado, pra durar.

Abelha fazendo o mel
vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu
O pedido que se pensou
O destino que se cumpriu
de sentir seu calor
e ser todo
Todo dia é de viver
para ser o que for
e ser tudo

Sim, todo amor é sagrado
e o fruto do trabalho
é mais que sagrado, meu amor.
A massa que faz o pão
vale a luz do teu suor
Lembra que o sono é sagrado
e alimenta de horizontes
o tempo acordado, de viver.

No inverno te proteger, no verão sair pra pescar
no outono te conheçer, primavera poder gostar
no estio me derreter
pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu
de sentir seu calor e ser tudo.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Maria Bethânia - Gente Humilde





Letras de Músicas | Letra de gente-humilde


Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Feito um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a como
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar

São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar

Maria Bethânia - Você Não Sabe





Letras | Letra de voce-nao-sabe

Você não sabe quanta coisa eu faria
Além do que já fiz
Você não sabe até onde eu chegaria
Pra te fazer feliz

Eu chegaria
Onde só chegam os pensamentos
Encontraria uma palavra que não existe
Pra te dizer nesse meu verso quase triste
Como é grande o meu amor

Você não sabe que os anseios do seu coração
São muito mais pra mim
Do que as razões que eu tenha
Pra dizer que não
E eu sempre digo sim
E ainda que a realidade me limite
A fantasia dos meus sonhos me permite
Que eu faça mais do que as loucuras
Que já fiz pra te fazer feliz

Você só sabe
Que eu te amo tanto
Mas na verdade
Meu amor não sabe o quanto
E se soubesse iria compreender
Razões que só quem ama assim pode entender

Você não sabe quanta coisa eu faria
Por um sorriso seu
Você não sabe
Até onde chegaria
Amor igual ao meu

Mas se preciso for
Eu faço muito mais
Mesmo que eu sofra
Ainda assim eu sou capaz
De muito mais
Do que as loucuras que já fiz
Pra te fazer feliz

VOCÊ // ISOLDA






Letras de Músicas | Letra de voce

Maria Bethânia - Você

Você, que tanto tempo faz,
Você que eu não conheço mais
Você, que um dia eu amei demais
Você, que ontem me sufocou
De amor e de felicidade
Hoje me sufoca de saudade
Você, que já não diz pra mim
As coisas que preciso ouvir
Você, que até hoje eu não esqueci
Você que, eu tento me enganar
Dizendo que tudo passou
Na realidade, aqui em mim
Você ficou
Você que eu não encontro mais
Os beijos que já não lhe dou
Fui tanto pra você
E hoje nada sou.

Maria Bethania - Negue


Letras de Músicas | Letra de Negue

Maria Bethania - Negue

Negue seu amor e o seu carinho
Diga que você já me esqueceu
Pise machucando com jeitinho
Este coração que ainda é seu
Diga que meu pranto é covardia
Mas não se esqueça
Que você foi meu um dia
Diga que já não me quer
Negue que me pertenceu
Que eu mostro a boca molhada
Ainda marcada pelo beijo seu

Negue seu amor, o seu carinho
Diga que você já me esqueceu
Diga que meu pranto é covardia
Mas não se esqueça
Que você foi meu um dia
Diga que já não me quer
Negue que me pertenceu
Que eu mostro a boca molhada
Ainda marcada pelo beijo seu

Diga que já não me quer
Negue que me pertenceu
Que eu mostro a boca molhada
Ainda marcada pelo beijo seu

Maria Bethania - Explode Coracao



Letras de Músicas | Letra de Explode Coracao

Maria Bethania - Explode Coracao

Chega de tentar dissimular
E disfarcar e esconder
O que nao da mais pra ocultar
E eu nao posso mais calar
Ja que o brilho desse olhar foi traidor e
Entregou o que voce tentou conter
O que voce nao quis desabafar e me cortou
Chega de temer, chorar, sofrer
Sorrir, se dar, e se perder, e se achar
Que tudo aquilo que e viver,
Eu quero mais e me abrir
E que essa vida entre assim
Como se fosse o sol
Desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor dessa manha
Nascendo, rompendo, rasgando,
E tomando meu corpo e entao eu
Chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando
Feito louco, alucinado e crianca
Sentindo o meu amor se derramando
Nao da mais pra segurar
Explode coracao

Maria Bethania - Olha


Letras de Músicas | Letra de Olha

Maria Bethania - Olha

Olha você tem todas as coisas
Que um dia eu sonhei pra mim
A cabeça cheia de problemas
Não me importo, eu gosto mesmo assim

Tem os olhos cheios de esperança
De uma cor que mais ninguém possui
Me traz meu passado e as lembranças
Coisas que eu quis ser e não fui

Olha você vive tão distante
Muito além do que eu posso ter
E eu que sempre fui tão inconstante
Te juro, meu amor, agora é prá valer

Olha, vem comigo aonde eu for
Seja minha amante, meu amor
Vem seguir comigo o meu caminho
E viver a vida só de amor

NAS ÁGUAS DE UMA GRANDE ARTISTA



Um ambicioso projeto banhado em águas inspiradas. Maria Bethânia lança simultaneamente dois álbuns falando sobre rios e mares. Mar de Sophia traz a água salgada da maturidade de Bethânia, cantora de rigoroso depuro artístico e projetos bem conceituados, fechados em uma idéia. Já Pirata tem um quê de menina, com as lembranças da infância à beira do rio no recôncavo baiano.

Dentro do mar tem um rio: a frase ouvida por Bethânia e levada para a música através de uma poesia de Capinam resume e batiza o ambicioso projeto. Enquanto o país fala em crise da indústria do disco e muitos artistas apelam para um repertório mais fácil e óbvio, Bethânia veste sua coroa de rainha absoluta. O apuro de sua interpretação encontra um conceito fechado e bem definido em um trabalho que vai além do ofício de uma cantora popular.

Com o tempo Bethânia se tornou um artesã da música. Uma artista de atitudes discretas, obras bem delineadas e realizações majestosas. Um disco de Maria Bethânia é bem mais que um punhado de canções; é um painel musical focado em uma idéia, uma pequena jóia lapidada com carinho e esmero. Essa liberdade de criar encontra sua plenitude quando Bethânia sai da grande indústria tradicional para se aliar ao cast da gravadora Biscoito Fino. E vai ao extremo quando a cantora cria o Quitanda, seu próprio selo, voltado especialmente para trabalhos tidos como menos comerciais, mas que rendeu um dos maiores discos e shows da década, Brasileirinho, de 2003.

Admirada por sua habilidade particular de costurar músicas e poesias, Bethânia passeia com desenvoltura entre os textos da poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner e as músicas de grandes compositores brasileiros. O CD Mar de Sophia se rende em homenagens a escritora e suas águas. Entidades africanas se casam com a literatura portuguesa e a música brasileira em uma colcha de retalhos bem amarrados.

Bethânia abre espaço para poesia de Drummond musicada por Sueli Costa. "O mundo é grande e cabe nessa janela sob o mar", diz o poeta brasileiro que na costura de Bethânia encontra a colega portuguesa e as cirandas populares. Em águas profundas e algumas vezes escuras Bethânia tem espaço para uma criação coletiva dos Titãs e para As praias desertas de Jobim; cabem rápidas inserções pela obra de Caymmi e composição do sobrinho Jota Velloso; tem espaço para o irmão Caetano e para Chico César; para um canto de Toquinho e Vinicius e para Villa Lobos.

A participação da especial percussão de Naná Vasconcellos ajuda a costurar as idéias de Bethânia em informações que, a princípio, podem parecer distantes. Mas que, nas mãos da artista, se tornam um trabalho bem fechado e coerente.

Já em Pirata Bethânia se banha nas lembranças da infância em Santo Amaro. As águas doces dos rios que banham o recôncavo baiano trazem a menina encantada e deslumbrada. Desde a alegre arte do encarte, lúdica e colorida, personagens da infância de Bethânia dançam e prestam suas oferendas aos deuses da água. "Eu sou memória das águas", canta em composição do conterrâneo Roberto Mendes e Jorge Portugal.

De sua cidade traz também o irmão Caetano em Os argonautas e Onde eu nasci passa um rio, duas composições da década de 60. Das memórias de sua infância resgata o rico cancioneiro brasileiro com peças do folclore e cantigas populares, um domínio público que faz parte da formação cultural e da criação de sua gente.

Quem não nasceu perto do mar tem o leito dos rios como referência das águas. Assim trechos da obra do mineiro Guimarães Rosa pontuam Pirata como a parceria de Ana Carolina e Jorge Vercilo. Na letra a compositora confessa e entrega: "Eu que não sei quase nada do mar/Descobri que não sei nada de mim". A música foi a primeira escolhida a freqüentar as rádios.

A essencial parceria com Jaime Alem, seu maestro há mais de 20 anos, é cada vez mais rica para a obra de Bethânia. A cantora encontra no músico a tradução exata de suas idéias musicais. Jaime traz a viola do interior do Brasil e encontra o violão popular com bom gosto único e arranjos grandiosos em sua simplicidade.

Comemorando seus 60 anos a artista tem uma oportunidade rara de ter em catálogo toda sua obra. Acompanhar a evolução de Bethânia é um saudável exercício. No final a conclusão é que o diamante está cada vez mais lapidado e, com a maturidade, a artista atinge um nível de riqueza poucas vezes visto na cultura popular. Mas é muito cedo para se falar em auge, já que mais do que nunca Bethânia está em franco processo de criação. Sua obra não se acomoda e gera novas águas a cada temporada. Celebrar sua nova produção não é surpresa, mas um prazer constante e sublime.

Sophia de Mello Breyner Mar(excerto)


Maria Bethânia e Paulinho da Viola - Tudo é Ilusão/Pecadora


Bethânia - O que será?


Maria Bethânia e Omara Portuondo - Cio da Terra


Maria Bethânia e Omara Portuondo - Mensagem


Maria Bethânia e Omara Portuondo - Tal Vez




TAL VEZ
“Tal vez
Si te hubiera besado outra vez
Ahora fueram las cosas distintas
Tendrías um recuerdo de tí
Pero tal vez
Si tu hubieras hablado mi amor
Te tendría aqui a mi lado
Y serías feliz.
Tal vez
Si al desperdite de mi
Tus manos tíbias
Humbieran tocado mis manos
Diciéndome adíos.
Pero tal vez
Si tu hubieras hablado mi amor
Te tendría aqui a mi lado
Y serías feliz”

Maria Bethânia - - Deixa




Deixa (Baden Powell)

Deixa
Fale quem quiser falar, meu bem
Deixa
Deixe o coração falar também
Porque ele tem razão demais quando se queixa
Então a gente deixa, deixa, deixa, deixa
Ninguém vive mais do que uma vez
Deixa
Diz que sim prá não dizer talvez
Deixa
Paixão também existe
Deixa
Não me deixe ficar triste

Maria Bethania & Rita Lee - Baila Comigo


Maria Bethânia e Nana Caymmi - Sussuarana


Lenine & Maria Bethânia-Nem A Lua,Nem O Sol,Nem Eu (Ao Vivo)


terça-feira, 12 de agosto de 2008

António Alçada Batista: "o homem de acção, o político e o escritor"


António Alçada Batista: "o homem de acção, o político e o escritor"

"A importância da cultura na sociedade"

Na sociedade actual, a cultura poderá ser a salvação da alma, evitando o apaguamento da nossa identidade. Foi com esta ideia que Alçada Batista levou à reflexão e ao diálogo, apelando à cultura dos afectos.


Por Liliana Correia

"A importância da cultura na sociedade" foi o tema escolhido pelo escritor António Alçada Batista a propósito das comemorações dos 75 anos do Orfeão da Covilhã. A palestra teve lugar na passada quinta-feira, 22, no Salão Nobre da Câmara Municipal da Covilhã, que foi pequeno para acolher as pessoas que até lá se deslocaram para ouvirem o ilustre covilhanense.
Antes das esperadas palavras do reconhecido escritor, o auditório foi presenteado com um momento musical onde a voz, o violino, a viola d'arco e a guitarra se fundiram, criando uma harmonia relaxante.
Foram muitos os aplausos quando António Alçada Batista, "figura de cultura nacional, grande escritor e personalidade que todos gostam de ouvir", nas palavras de Carlos Pinto, presidente da Câmara Municipal da Covilhã, se levantou para iniciar o seu discurso com o objectivo de alertar as pessoas para a emergência da cultura na sociedade.
Ao longo da sua apresentação, em tom de conversa, remetendo-nos para factos e situações por ele vividas, Alçada Batista debruçou-se sobre duas formas de cultura: uma cultura tribal e uma cultura erudita.
A primeira, constituída pelas nossas raízes, introduz-nos na humanidade, ao passo que a segunda nos constrói a personalidade, sendo aqui fundamentais os nossos comportamentos. O escritor salientou a necessidade de uma relação entre ambas para que a humanidade possa progredir, já que não podemos viver somente com as normas que nos transmitiram, mas questioná-las e construir algo de novo através dos nossos feitos.
É com base nesta afirmação, que o escritor chama a atenção para a necessidade dos afectos numa sociedade em constante desenvolvimento. A sociedade de massas que nos rodeia, leva o Homem a perder a sua identidade.
Carlos Pinto, presidente da Câmara Municipal da Covilhã, homenageando
o ilustre covilhanense
Os afectos podem salvar o homem na medida em que o torna mais sensível para aquilo que o envolve, nomeadamente na sua relação com os outros. Numa época em constante ritmo apressado, o Homem vai caminhando para a sua destruição. "Há que repensar o ócio", sublinha Alçada Batista, que defende que "o importante é que as pessoas criem hábitos de cultura, e saibam que é preciso ler e conversar".
Ao longo do certame, salientou-se o trabalho que o Orfeão covilhanense tem desenvolvido já que "põe a público vários concertos, várias palestras com pessoas de muita qualidade", afirma Dulce Gomes, representante do Orfeão, acrescentando que este "continuará a manifestar uma boa actuação em prol da cultura".

Perfil António Alçada Baptista
António Alçada Batista, definido por José Pinheiro da Fonseca, apresentador da palestra, como "homem de acção, o político e o escritor" nasceu na Covilhã, e conta já com um vasto currículo ligado às manifestações culturais e atitude activa perante a sociedade.
Como homem de acção, Alçada Batista fundou e dirigiu a revista "Tempo e Moda", foi director da livraria Morais Editora e do jornal "O Dia", no qual foi igualmente jornalista, colaborando ainda com o jornal "A Capital".
Como escritor destacam-se os livros "O Tempo das Palavras" e "A Peregrinação Interior", este último dotado de uma originalidade fascinante, uma prosa ímpar com traços moralistas e sublime ironia.
Como político, é de realçar a sua constante luta para um espírito democrático, sendo o seu maior feito a oposição ao governo do Estado Novo. É ainda digno de nota o seu contributo para melhores relações entre Portugal e os outros países de língua portuguesa, em especial o Brasil.

Rainha das águas e dos ventos


Maria Bethânia: “Fiquei impressionada com a beleza como a Sophia conduzia o sentimento dela em relação ao mar, com uma intimidade que eu não conheço em uma mulher” (Foto: Leonardo Aversa/Divulgação)


Henrique Nunes
Enviado ao Rio de Janeiro


Maria Bethânia ainda não respira ´debaixo d´água´, como sugere Arnaldo Antunes, em uma de suas novas interpretações. Mas em torno dela, a doce santo-amarense continua fluindo seus orixás e sua realeza. E tecendo seus novos bordados poéticos e sonoros, ´Pirata´, dedicado às águas doces, e ´Mar de Sophia´, ao mar... Claro, ´dentro do mar tem rio´, conforme lembra Capinan em um verso de ´Beira-Mar´ que acabou batizando todo o projeto (os lançamentos e o show) e representando a interação destas águas. Na última sexta-feira, a supersticiosa rainha das boas águas da música brasileira catalisou a imprensa de parte do Nordeste, Sul e Sudeste para falar sobre seus novos elementos de (re)criação

Passados 35 anos de sua interpretação mais derramada, no show ´Rosa dos Ventos´, dirigido pelo ainda parceiro Fauzi Arap, a intérprete volta a confluir, nestes dois álbuns, as duas principais manifestações deste elemento: o rio (e ainda a cachoeira, o lago, as águas doces de Oxum) e o mar (de Iemanjá). Algumas destas águas, inclusive, já haviam sido movidas por Bethânia naquele show - e em álbuns anteriores. Mas, como sugere Jorge Portugal, ´águas que movem moinhos nunca são águas passadas´, segundo sua inspirada ´Memória das Águas´, em parceria com Roberto Mendes.

Uma confluência mansa, precisa, mas ainda vigorosa, dentro da linha mais brejeira interposta por ela ao lado do arranjador Jaime Alem, desde o álbum e o show ´Brasileirinho´. Com repertórios mesclando timbres mais serenos e mais carregados, ´conduzidos por Jaime´ entre valsas, canções, cirandas e sambas-de-roda, os novos álbuns de Bethânia banham-se ainda nas águas declamadas em torno do doce Guimarães Rosa (´Pirata´) e da marinhista portuguesa Sophia de Mello Breyner (´Mar de Sophia´), entre outros poetas como João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa.

O passo miúdo, a faceirice ´toda de branco´, mas, claro, sem o bonezinho do ´Marinheiro só´, consagrado pelo mano Caetano, Bethânia chega pontual à entrevista, que se conduziria por questões mais pessoais do que propriamente musicais, ao longo da próxima uma hora e meia. Houve até críticas ao projeto de transposição do Rio São Francisco, sugeridas também na faixa ´Francisco, Francisco´, de Roberto Mendes e Capinan. ´Não posso falar muito, mas acho estranho. Mexer em leito de rio eu acho errado´, esvoaçou.

Mas tudo sem maiores ´procelas´, para usar um termo caro ao novo repertório. Um poema de Sophia (veja ao lado), sobre o qual Bethânia se derramara, há pouco, nos extras do DVD ´Tempo Tempo Tempo Tempo´... Sophia e uma casual frase de uma conterrânea (´Dentro do mar tem rio´), embriões de projetos para os quais foi, então, instigar seus compositores mais diletos, de Capinan e Vanessa da Mata, ao conterrâneo santo-amarense Antonio Vieira, a produzir-lhe umas (belas) canções inéditas. ´Sou privilegiada de conviver com compositores importantes para a música brasileira, dos poetas, inclusive portugueses, mas também das cantigas anônimas do interior, de onde eu sou´. Cancioneiro que, nos dois álbuns, flui à vontade, passível de ´tirar um pouco a dureza´ do dia-a-dia de todos, como uma expressão de liberdade.

´Foi ao me aproximar da poesia de Sophia, que eu comecei a pensar em fazer um trabalho sobre a água´, esclareceu ao início da entrevista, na sede da gravadora Biscoito Fino. Uma aproximação cujo tempo ela não precisa, mas que fora intermediada pelo escritor, também português, Antonio Alçada Batista, a quem dedica ´O mar de Sophia´, poetisa falecida em 2004 e ainda inédita no Brasil. ´Fiquei impressionada com a beleza como ela conduzia o sentimento dela em relação ao mar, com uma intimidade que eu não conheço em uma mulher, poeta. O mar é um elemento normalmente ligado ao homem, ao marujo, ao ´lobo do mar´. Essa intimidade dela é até mais própria, no meu entender´, acrescentou.

O mar que, meninota, uns cinco anos, ela conheceu indo, a vapor, para a capital. ´Uma saída de onda verde, azul, esmeralda... Medo, pavor e uma atração infinita´, lembrou. Já sobre ´Pirata´, cuja faixa-título desponta n´ ´O mar de Sophia´, ela o considerou um projeto mais intimista e ao mesmo tempo mais despojado, como todos lançados pelo seu selo, Quitanda, onde ela pode ´brincar um pouco, esquecendo os 60 anos e os 42 anos de carreira´, de uma obra recentemente relançada em CD e que constataria seu aprimoramento como intérprete. ´Isso vem com o tempo, tudo melhora com o tempo, com o exercício de cantar´. Mas, ao contrário do que sugerem os dois novos projetos, inclusive por sua simultaneidade, Bethânia preferiu ressaltar a diferença entre as águas, negando um ´elo´ maior entre eles.

´O encontro das águas pra mim tem um significado bem diferente, porque eu sou da Igreja Católica, mas sou também da religião africana. E encontro de águas é lugar de reverência, de perfume, de flor, de oferendas. Então, quando fala, ´encontro das águas´, eu tremo um pouco´, ri-se, antes de anunciar que no show ´Dentro do mar tem rio´ (que estréia dia 10, em São Paulo, com roteiro de Bethânia e do velho amigo Fauzi Arap, sob a direção de Bia Lessa), aí sim, haverá uma ´misturada´ dos dois álbuns entre outras canções ´com alguma natureza aquática´ de seu repertório. Sem esquecer algumas adequações melódicas, entre a ´Saudade mata a gente´ (João de Barro e Antonio Almeida) do ´Pirata´ e a ´Gostoso demais´, de Dominguinhos, por exemplo. Outra certa é ´Atiraste uma pedra´, de Herivelto Martins e David Nasser, da lavra dos Doces Bárbaros.

Assim, naturalmente, Bethânia nos conduz a referências mais pessoais, sobretudo em relação à sua espiritualidade afro-brasileira, vivenciada outras vezes nestes novos projetos. Bethânia e os orixás. ´A água, pra mim, é um elemento imprescindível. Um elemento de grande força, de grande beleza, ligado à mulher, à energia, à delicadeza, à força. É um elemento que me comove, eu não posso ficar muito tempo longe de água´, ponderou, remetendo, em seguida, às suas origens junto ao mar ´palha, meio mangue´ do Recôncavo Baiano.

Aos entendedores da filosofia da umbanda, Bethânia se declarou ´de Iansã´ (orixá dos ventos e ´procelas´) e ´de Oxum´ (orixá das águas doces), segundo soube há muito tempo, no célebre terreiro de Mãe Menininha do Gantois. ´Isso pra mim é ´dentro do mar tem rio´´, definiu. Por isso mesmo, o estribilho de ´O vento´ a ajudou a conduzi-la por suas águas, em uma das raras presenças do velho cantador do mar, Caymmi. Por isso mesmo, Bethânia não abriu mão de convidar um expert nos timbres de todos os orixás, a dar, feito Nanã (divindade das águas de junção entre o rio e o mar), a liga sonora necessária ao envolvimento perfeito entre os cânticos de louvor às entidades e a procelária poética de Sophia de Mello Breyner: estamos falando do percussionista Naná Vasconcelos. Uma proteção a mais para uma Rainha que já definiu, ao cineasta Georges Gachot, a fluidez da música como uma fragrância, um perfume, e agora a espalha não só pelo ar, mas também pelas águas.

“Procelária”
(Sophia de Mello Breyner)

É vista quando há vento e grande vaga
Ela faz o ninho no rolar da fúria
E voa firme e certa como bala

As suas asas, empresta
À tempestade
Quando os leões do mar rugem nas grutas
Sobre os abismos passa e vai em frente

Ela não busca a rocha, o cabo, o cais
Mas faz da insegurança sua força
E do risco de morrer, seu alimento

Por isso me parece imagem justa
Para quem vive e canta no mau tempo

Segue o Teu Destino // Maria Bethânia e António Alçada Batista



Segue o teu destino
Rega tuas plantas
Ama as tuas rosas
O resto é sombra
De arvores alheias

A realidade
Sei que é mais ou menos
Do que nós queremos
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
A resposta está além dos deuses.

mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

O MEU AMOR - Alcione e Maria Bethania