quarta-feira, 27 de julho de 2011

FERNANDO PESSOA

-
"Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que partilhámos.




Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das
vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...
do companheirismo vivido.


Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.




Hoje já não tenho tanta certeza disso.


Em breve cada um vai para seu lado, seja
pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.




Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas
que trocaremos.


Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto
se tornar cada vez mais raro.




Vamo-nos perder no tempo...


Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e
perguntarão:
Quem são aquelas pessoas?


Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!




- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons
anos da minha vida!


A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...


Quando o nosso grupo estiver incompleto...
reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo.


E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.
Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes
daquele dia em diante.




Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a
sua vida isolada do passado.


E perder-nos-emos no tempo...


Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não
deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de
grandes tempestades...


Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem
todos os meus amigos!"










"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem.


Por isso existem momentos inesquecíveis,


coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis"


Fernando Pessoa





















































terça-feira, 26 de julho de 2011

CORA CORALINA HUMILDADE

“Humildade







Senhor, fazei com que eu aceite


minha pobreza tal como sempre foi.






Que não sinta o que não tenho.


Não lamente o que podia ter


e se perdeu por caminhos errados


e nunca mais voltou.






Dai, Senhor, que minha humildade


seja como a chuva desejada


caindo mansa,


longa noite escura


numa terra sedenta


e num telhado velho.






Que eu possa agradecer a Vós,


minha cama estreita,


minhas coisinhas pobres,


minha casa de chão,


pedras e tábuas remontadas.


E ter sempre um feixe de lenha


debaixo do meu fogão de taipa,


e acender, eu mesma,


o fogo alegre da minha casa


na manhã de um novo dia que começa.”






Cora Coralina