sábado, 20 de setembro de 2008

SOPHIA DE MELLO BREYNER // O POEMA


O poema me levará no tempo


Quando eu já não for eu


E passarei sozinha


Entre as mãos de quem lê


O poema alguém o dirá


Às searasS


ua passagem se confundirá


Como rumor do mar com o passar do vento


O poema habitará


O espaço mais concreto e mais atento


No ar claro nas tardes transparentes


Suas sílabas redondas(Ó antigas ó longasEternas tardes lisas)


Mesmo que eu morra o poema encontrará


Uma praia onde quebrar as suas ondas


E entre quatro paredes densas


De funda e devorada solidão


Alguém seu próprio ser confundirá


Com o poema no tempo

Livro Sexto (1962)

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