segunda-feira, 28 de julho de 2008

LAVAGEM EM SANTO AMARO


A lavagem realizada ontem em Santo Amaro remonta a uma tradição iniciada há mais de 200 anos. Mas, segundo alguns historiadores, o culto a Nossa Senhora da Purificação teria sido iniciado antes mesmo de a cidade ser batizada, desde que as primeiras povoações chegaram no local, em 1557, com a instalação de um engenho às margens do Rio Subaé. Na capela do próprio engenho, onde ao redor se formaram as primeiras freguesias, iniciou-se a adoração a Nossa Senhora. Somente depois, quando a população deslocou-se para área próxima, porém mais fértil, construiu-se a capela de Santo Amaro, que deu nome à localidade. O culto a Nossa Senhora se manteve e hoje a lavagem que lhe rende homenagens é tida como a maior festa popular do recôncavo baiano... O semblante da matriarca dos Velloso carrega a mesma pureza e doçura dos santos. Talvez por isso, no dia dedicado a Nossa Senhora da Purificação, as reverências se voltem todas para ela. Ontem, quase que santificada pela população de Santo Amaro, dona Canô voltou a monopolizar as atenções da festa e ditou o ritmo do cortejo... Aos 100 anos, dona Canô utilizou um carrinho elétrico para manter a tradição. A multidão de devotos e curiosos aglomerou-se defronte à sua residência, de onde há anos costuma partir a procissão. Do lado de dentro, um clima familiar aguardava a pequena grande mãe. No quarto, ela se aprontava para a empreitada. Quando surgiu, iluminada, foi recebida pela filha e diva, Maria Bethânia, que tinha na cabeça uma carapuça de candomblé cravada de búzios coloridos. A troca de afagos entre as duas foi interrompido por um sussurro. Ao pé do ouvido da cantora, sem perder o sorriso, Canô reclamou das dores que sente num dos membros inferiores. “Essa perninha tá demais, Bethânia”. A resposta é uma ironia à idade da própria mãe. “Parece que ela tá é cansando antes da hora”, brincou, fazendo a mãe gargalhar. (Alexandre Lyrio). Foto: Neide de Jesus.

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