quinta-feira, 28 de agosto de 2008




Dona Canô- ilustre de Santo Amaro da Purificação
A fisionomia aparenta certa fragilidade, mas só aparenta. Aos noventa e poucos anos, dona Claudionor Viana Teles Cardoso, mais conhecida nacionalmente como dona Cano, é a matriarca da família mais famosa de Santo Amaro da Purificação, os Veloso, ninho dos cantores Caetano Veloso, Maria Bethânia e da poetiza Mabel Veloso.

D. Cano, não é uma simples moradora do local, é também agitadora cultural, organizadora das mais belas festas religiosas da cidade, a exemplo da tão conhecida e freqüentada Novena de Santo Antônio, que realiza todos os anos. É ela também, em muitos casos, a porta-voz da pequena cidade, distante a 81 quilômetros de Salvador, junto à comunidade política. Foi sua boa relação com autoridades, que contribuiu para melhorias em Santo Amaro.

Assim, ela conseguiu a restauração da igreja matriz de Santo Amaro, que ficou três anos fechada. Bastou uma conversa sua com o então governador da época, Antônio Carlos Magalhães, para que seu desejo fosse realizado. Ela também foi ao governador Paulo Souto pedir pela limpeza do Rio Subaé, que cruza o município. Pouco tempo depois, o programa de despoluição foi incluído no Projeto Bahia Azul de saneamento ambiental.

Admirada por todos

Por iniciativas desse tipo e por sua simplicidade e candura, a mãe de Caetano e Bethânia é admirada em sua cidade e respeitada por intelectuais, artistas, políticos e autoridades religiosas, além das inúmeras pessoas que visitam Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, fazendo questão de conhecer a cada 179 da avenida Ferreira Bandeira.
Nascida em 16 de setembro de 1907, dona Canô praticamente viu a história de Santo Amaro acontecer. Ela lembra, por exemplo, do surgimento da primeira praça da cidade. Uma festa para um lugar onde havia nada. Outro fato marcante foi a chegada da luz elétrica por lá, em 1918, depois de conflito entre os dois grupos políticos da localidade. Dona Canô ainda chegou a ver os bondes puxados por burros, que iam até o porto do Conde, de onde saía o vapor em direção a Salvador. Mesmo pertencendo a uma família de poucas posses, ela estudou no Colégio das Sacramentinas, recendo uma educação rígida. Estudou piano e Francês. No dia 7 de janeiro de 1931, casou-se com José Telles Veloso, o seu Zeca, na época um telegrafista da Companhia de Correios e Telégrafos. Foi morar na casa da mãe do marido, levando a filha Nicinha, adotiva.
Um ano mais tarde, ela teve sua primeira filha biológica, Maria Clara e logo depois vieram os demais: Maria Isabel, Rodrigo, Roberto, Caetano e Maria Bethânia, além de Irene, que foi adotada alguns anos mais tarde.

Por volta de 1945, dona Canô começou a perceber o talento artístico dos filhos. Naquele tempo Caetano já usava resto de carvão para pintar as paredes de casa e até chegou a pintar quadros durante a adolescência. Ele tinha dez anos quando gravou o primeiro disco com apenas duas músicas, tendo sido acompanhado pela irmã Nicinha no piano.


A saudade do filho no exílio

Uma das épocas mais difíceis para dona Canô e a família Veloso, foi a do exílio de Caetano, em Londres. No início dos anos 60, ela e seu Zeca tinham mudado para Salvador para acompanhar os filhos cantores. Nos festivais de música, os filhos de Santo Amaro tornavam-se conhecidos e deixavam famoso também o nome da cidade. Em 1969, Caetano parte para o seu exílio em Londres, juntamente com o amigo Gilberto Gil, após alguns dias de prisão no Rio de Janeiro. Foram dois anos e meio sem ver o filho.
Ela e o marido Zeca retornaram a casa de Santo de Amaro no ano de 1984, a pedido dele que, doente, queria morrer em casa. A partir dali, dona Canô só se ausentou de Santo Amaro para acompanhar os filhos em algumas viagens, nas quais chegou a conhecer lugares como Madri, Barcelona, Paris, Nova York e Roma, onde se emocionou muito ao presenciar uma platéia inteira aclamando o nome de seu filho.
Hoje os compromissos e as viagens diminuíram, ela só sai de sua casa para ir à missa de todos os domingos na Igreja de Nossa Senhora da Purificação, ou para prestigiar grandes eventos culturais, como os shows mais importantes dos filhos ou eventos especiais, como aconteceu recentemente quando foi assistir a estréia do espetáculo Alta Sociedade, apresentado pela amiga Fernanda Montenegro.

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