sábado, 30 de agosto de 2008

Sophia de Mello Breyner








As ondas



As ondas quebravam uma a uma



Eu estava só com a areia e com a espuma



Do mar que cantava só para mim.






Mar sonoro



Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.



A tua beleza aumenta quando estamos sós



E tão fundo intimamente a tua voz



Segue o mais secreto bailar do meu sonho.



Que momentos há em que eu suponho



Seres um milagre criado só para mim.






O jardim



O jardim está brilhante e florido,



Sobre as ervas, entre as folhagens,



O vento passa, sonhador e distrído,



Peregrino de mil romagens.



É Maio ácido e multicolor,



Devorado pelo próprio ardor,



Que nesta clara tarde de cristal



Avança pelos caminhos



Até os fantásticos desalinhos



Do meu bem e do meu mal.



E no seu bailado levada



Pelo jardim deliro e divago,



Ora espreitando debruçada



Os jardins do fundo do lago,



Ora perdendo o meu olhar



Na indizível verdura



Das folhas novas e tenras



Onde eu queria saciar



A minha longa sede de frescura.

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